Crítica: “Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1”

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1)

Há nove anos, Harry Potter chegou aos cinemas, J. K. Rowling ficou mais rica e eu fiquei encantado pela história do bruxo. Depois de tantos filmes mal adaptados e de duas direções de Yates, deixei de gostar de Harry Potter. Novamente, fui ao cinema sem expectativa alguma e sai surpreendido como na maioria das vezes.

Neste ano, Harry não voltará para Hogwarts. Desta vez, tentará completar a tarefa que Dumbledore o incumbiu. Ele procurará pelas Horcuxes que Voldemort fez para se tornar imortal e irá destruí-las, uma a uma, até chegar a batalha final que determinará o futuro de dois mundos.

Esta idéia caça-níqueis da Warner deu certo, pelo menos para o roteiro (o mais sério dos sete filmes até agora, as piadas deram lugar para o drama) de dividir o sétimo livro da série em dois filmes. Ele conta com o maior tempo de projeção para adaptar a obra, o que certamente deixou o filme extremamente fiel ao livro. Praticamente todas as passagens do livro estão lá, temos o casamento de Gui e Fleur, os acampamentos maçantes de Harry, Ron e Hermione nos confins do mundo, a passagem no Ministério da Magia (melhor parte do filme até então), além dos genocídios de bruxos (Rowling resolveu matar 1/3 dos personagens do livro). Existem alguns (dos muitos) diálogos que permaneceram intocados, ficando iguais aos do livro.

É bom citar que graças a essa grande fidelidade com livro (a primeira parte dele – até Harry destruir a primeira Horcrux é extremamente lenta, cheia de diálogos e poucas correrias), o filme ficou bem parado. Não espere ir ao cinema e ver Harry matando seres ofídicos com pássaros de carnaval e espadas de rubi como aliados. Porém, isto não foi uma coisa ruim. O roteiro finalmente deu chance aos atores darem um foco mais dramático para seus personagens. Afinal não é todo dia que um bruxo tem que salvar o mundo de um cara sem nariz.

Apesar do filme estar bem fiel ao livro, parece que os roteiristas não deram atenção aos mínimos detalhes que fazem TODA diferença. Vários personagens ficaram sem nome no filme, por exemplo: o ministro da magia Rufus Scrimgeour (interpretado brilhantemente por Bill Nigh), a tia de Ron e alguns comensais da morte. Também não deu enfoque para o espectador relembrar de alguns personagens como Lupin, Tonks, Greyback, Fleur, Shacklebolt, Olivaras entre vários outros que também não tem seus nomes citados. Ainda assim, falha quando o filme apresenta (de maneira supercriativa) a história das três relíquias da morte: a varinha, a pedra e a capa. Sendo que a pedra da ressurreição não é explicada ou citada após a animação da história, deixando uma severa dúvida no ar para alguns (se era a pedra filosofal ou não. A resposta é não, esta pedra nada tem a ver com a filosofal do 1º filme). Além de tudo isso, algumas passagens ficaram muito forçadas, como a crise de adolescência de Ron no meio da jornada de Harry ou a falta do crescimento da desconfiança de Harry a respeito de Dumbledore (passagem fundamental do livro onde Harry chega até a odiá-lo). Fora isso, existe uma frase extremamente clichê que marca o minuto final do filme.

O trio principal de atores (Radcliffe, Watson e Grint) evoluíram consideravelmente seus personagens. Não são mais garotinhos superficiais que precisam se preocupar em passar em provas de magia. O destaque fica mesmo para Radcliffe. Sua atuação ficou bem adulta o que certamente o ajudou em algumas cenas com maior carga dramática. Grint também merece destaque: a experiência que juntou em outros filmes fora da série “Harry Potter” mostrou sua competência em expressões faciais, nos gestos e claro na atuação em si. Emma Watson não impressionou. Ela continua a usar recursos ultrapassados de filmes anteriores da série, por exemplo: as lágrimas (ela chora em todos os filmes de HP). Também não conseguiu representar o desapontamento e tristeza na parte que um amigo morre, onde ela recorre para o ombro de outro personagem – talvez por ordem do diretor, nunca saberemos.

Fiennes continua com seu Voldemort sibilante, não teve muito tempo em tela para inovar. Jason Isaacs como Lucius Malfoy está ótimo em seu papel e tornou o personagem único. Todavia, existem personagens que começam a apresentar sinais de desgaste como Bellatrix e Luna. Bonham Carter continua exagerada como sempre e isto já começou a ficar super indigesto e maçante de se ver. Evanna Lynch também não adiciona nada de novo em sua atuação. Como sempre com cara de boboca distraída que não toma atitudes.

O figurino é algo totalmente novo, os personagens deixaram os uniformes de Hogwarts e usam roupas casuais novamente (só que no filme inteiro desta vez). A caracterização de Xenofilio, Mundungos Fletcher e do líder do grupo de seqüestros ficou impressionante. Porém, os outros seqüestradores comuns usam roupas de dar vergonha, dando um ar completamente estranho ao filme.

A fotografia escura e pálida do português Eduardo Serra é o ponto mais alto do filme (com certeza será indicada ao Oscar, porém deverá perder para a de “A Origem”). As locações incríveis que ele pode trabalhar também ajudaram bastante. Várias vezes ele retrata, de forma única, a solidão dos personagens com planos aéreos em terrenos desertos, praticamente intocados pelo homem. Existem partes que ficaram muito bem executadas como a cena do corredor da casa de Sirius, onde usou todo o ar fantasmagórico que só os corredores conseguem ter para deixar o espectador super tenso. Existem outras cenas que o cameraman sai correndo atrás de Harry a fim de deixar a cena frenética, porém manteve uma estabilidade boa da imagem. Coisa que não acontece quando ele tenta usar o clássico recurso da “câmera nervosa” que me deixou com uma tontura e um desconforto que eu nunca havia sentido antes em nenhum filme que tivesse esta característica.  Apesar disto, ele inova quando usa o movimento de 360º da câmera de maneira criativa e quando nos joga no feitiço de aparatação em 1ª pessoa, onde desfoca a imagem logo após de o feitiço ser realizado, tornando o efeito bem inteligente.

Os efeitos visuais inovam na CGI do espectro negro que existe dentro da única Horcrux que aparece no filme, na movimentação e expressão de Dobby (realizados magistralmente) e no efeito do feitiço de aparatação.

A música é a melhor da série até agora. A orquestra inspirada fez um trabalho incrível com as músicas muito bem inseridas nas cenas. É interessante ver como em cada filme da série o tema clássico de HP composto por John Williams foi sendo desconstruído lentamente até que nesse filme é representado apenas pelas quatro notas iniciais sendo completamente alterada após isso.

A direção de David Yates nunca me agradou muito nos dois filmes anteriores sendo que o “Enigma do Príncipe” parecia mais um resumo do que uma adaptação do livro. Porém, tirei meu chapéu para ele neste filme. Graças à divisão do último livro em dois filmes, ele teve muito tempo para deixá-lo superfiel e aproveitar o máximo de seus atores tanto que o resultado com Radcliffe foi surpreendente. Fora isso, enquadra o grupo principal para as câmeras de maneira criativa nunca deixando a imagem poluída com elementos dos cenários.

Sua direção merece total destaque nas cenas do Ministério da Magia, na casa de Batilda (criou uma atmosfera super envolvente), nas perseguições, no suspense e na dramaticidade de cada cena. Bom, o filme inteiro é ótimo e sua direção surpreendeu bastante.

“Harry Potter e as Relíquias da Morte” fecha a primeira parte do fim da histórica saga em grande estilo. É o melhor filme da série até então, também é o mais adulto e pode até ser considerado um filme de arte graças à sua grande qualidade técnica e dramática, porém por pequenas falhas do roteiro e atuações inusitadas acaba pecando. Saiba que esta crítica ainda está em aberto, no dia 15/07/11 a saga será concluída e com certeza a Parte 2 será ainda melhor. Assim como o filme, essa crítica acabará com o clássico “CONTINUA…”.

NOTA: 3.5/5.0

Confira o trailer da 1ª parte do último filme da série Harry Potter:

Publicado em Críticas por Matheus Fragata. Marque Link Permanente.

Sobre Matheus Fragata

Formado em cinema pela UFSCar. Jornalista especializado em Entretenimento. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas. Tenho sonhos em 4K, coloridos e em preto e branco.

4 respostas em “Crítica: “Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1”

  1. ” Também não deu enfoque para o expectador relembrar de alguns personagens…”

    Nesse caso a grafia correta seria espectador, mas fora isso análise perfeita! Está virando profissional!
    faz uma crítica de Call of Duty black Ops ai!

    Abraços do seu irmão

    Matheus “Pajé” Costa.

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    • Putz, erro uma grafia e os caras vem alardear aqui huahuahua.
      Vlw Pajé, foi falta de atenção minha. Por isso peço minhas sinceras desculpas pelo erro infame.
      Mas veja bem, o “x” e o “s” estão a um milímetro de distância. XD
      Putz cara crítica de VG, deve ser cansativo pra caramba. Quem sabe eu não monto um blog a respeito de VGs.
      Abraços. O erro foi corrigido… ¬¬

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