Crítica: “As Melhores Coisas do Mundo”

As Melhores Coisas do Mundo

Por Vitor Quintanilha

Mano é um garoto de 15 anos da classe média alta paulistana: estuda numa escola privada, adora rock, quer ser popular, bebe, faz aula de violão, e por ai vai. Mas todos estes conflitos que envolvem esta parte da vida pioram quando seu pai se divorcia de sua mãe para morar com um namorado. Como fio condutor, este conflito move a história.

Laís Bodanzky escolhe um tema já bem explorado para o filme: a tão falada mudança de fase entre a infância e a pré-adolescencia (ou talvez da pré adolescência para a adolescência). O risco de escolher este tema é justamente cair nesse discurso comum que envolve este assunto, o que vários outros filmes americanos já fizeram diversas vezes, espalhando suas lições de morais e visões pré-fabricadas da escola e da adolescência. Talvez o primeiro escorregão que o filme da nesta direção é o próprio personagem de Mano: não que não exista um Mano ou que seja proibido retratar esse tipo, mas em vários aspectos o personagem é exatamente o que se espera de um garoto da classe média paulistana. Ele é a personificação do papel que a sociedade da para um adolescente desta classe nessa idade: se preocupa com escola, sexo, amigos, rock’n’roll; sai pra beber, tenta fumar pra ficar mais popular; vai a festas e erra ao paquerar meninas; tem diversas duvidas e conflitos, etc. Durante o filme inteiro somos bombardeados com estes lugares-comuns personificados em “Manos” ou nos outros personagens.

Não digo que isto seja ruim: é bom ver algo bem próximo do cotidiano personificado nas telas (alias, este é o grande ponto alto do filme: a coerência com a realidade, muito bem trabalhada e realmente convincente). Mas o fato é que isto cria um potencial: conseguir retratar a realidade para conseguir criticá-la, propor um pensamento sobre papéis. O tema principal do filme, o pai homossexual (ou bissexual, achem o que quiser) é um conflito interessantíssimo que acrescenta ainda mais a chance de se explorar este cotidiano. Mas é neste ponto que eu acredito que o filme não desenvolve seu potencial: ao invés de permitir esta reflexão, ele se torna mais um filme seguindo o modelo americano de um final feliz, aonde Mano cresce com os conflitos e aprender que é possível ser feliz sendo adulto, “só é mais difícil”. E todo aquele potencial de retratar a realidade para então questioná-la se perde: Mano passa por aqueles conflitos para se tornar alguém melhor, tentando passar para o espectador aquelas lições de moral pré-fabricadas, como “não seja preconceituoso” ou “lute pelo que você acredite” ou “de valor as pessoas certas”…

A grande crítica que o filme faz quanto ao cotidiano apresentado é quanto as “fofocas” da escola, intensificada pela revolução nos meios de comunicação. É uma crítica valida, mas no fundo é apenas um contexto para que Mano aprenda alguma outra lição, e assim passá-la ao espectador. Bom, talvez seja exagero dizer que a crítica é apenas um pano de fundo, mas é pouco. Com toda essa preocupação em mostrar a realidade da classe média paulistana, eu esperava uma critica maior.

Quanto as questões técnicas, a fotografia e a trilha sonora não são nenhuma surpresa, mas estão muito bem montadas no filme e ajudam o espectador a manter-se interessado. Realmente um ponto a mais. Quanto as atuações, Mano segura bem a barra de ser o ator principal: Fiuk escorrega e se levanta algumas vezes durante o filme (eu não gosto das atuações dele, mas respeito quem goste); e as outras atuações também seguram a onda, sem nada espetacular.

Em um filme que parece voltado para um publico bem específico, o mesmo publico representado nele, Laís cria um grande potencial a representar a realidade de forma fiel; mas perde a chance de fazer criticas e acaba se perdendo no final feliz seguido da lição de moral. Mas, no fundo, o filme tem algo a mais: uns conflitos não resolvidos, algumas cenas que permitem uma ou outra reflexão mais legal sobre a realidade. De resto, parece ser apenas uma réplica do que a sociedade espera de um garoto como Mano. Parece que estamos sentados ouvindo a história de como as coisas são e como você vai aprender com ela, como você deve se sair.

De qualquer jeito, eu me diverti vendo um filme bem realizado e que envolve o espectador. Talvez eu esperasse demais dele, por isso me decepcionei um pouco. Vale a pena assistir para se divertir, e você vai achar um pouco melhor que o clássico filme americano sobre escola, e se for como eu provavelmente vai se reconhecer dentro do filme, mas no fim vai engolir mais uma lição de moral e ir pra casa sem mudar nada.

NOTA: 3.5/5.0

Publicado em Críticas por Matheus Fragata. Marque Link Permanente.

Sobre Matheus Fragata

Formado em cinema pela UFSCar. Jornalista especializado em Entretenimento. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas. Tenho sonhos em 4K, coloridos e em preto e branco.

5 respostas em “Crítica: “As Melhores Coisas do Mundo”

  1. Oie mat, a minha duvida é… Já nao passou esse filme nos cinemas? Porque eu fui assistir um e o nome é parecido e igual ao que voce descreveu, faz um tempo já que assisti.
    Eles lançaram de novo o filme ou ainda esta em cartas?

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