Crítica: “Invasão do Mundo: A Batalha de Los Angeles”

Invasão do Mundo: a Batalha de Los Angeles (Battle: Los Angeles)

Já é longo o antigo romance da raça humana com os alienígenas. Seja na fantasia ou na realidade, eles sempre despertam um enorme fascínio para nós, afinal são o segundo maior mistério de nosso Universo cheio de segredos. E logo em um piscar de olhos o desconhecido tornou-se o inimigo interplanetário número 1 dos humanos no cinema. São raros os casos em que são tratados como bonzinhos, vide “Cocoon” e “E.T. O Extraterrestre”. Entretanto, os que mais se dão bem nas bilheterias são aqueles que os abordam como invasores, como este filme.

Los Angeles está sitiada. O pânico e o pavor dominam as ruas. O governo age rápido manobrando o exército inteiro da terra hollywoodiana contra a ameaça desconhecida. O sargento-ajudante Nantz recebe a missão de resgatar civis em um D.P. antes que a força aérea exploda Santa Mônica com os ETs malignos. Porém, no meio de tantas correrias, seu esquadrão revela-se ser a única esperança de retomar Los Angeles dos invasores.

Até que a morte nos separe

O roteiro de Christopher Bertolini tenta de todas maneiras criar vínculos emocionais entre o público com seus personagens maçantes, a ponto de até inserir o nome de cada no canto da imagem enquanto  apresenta um a um os estereótipos dos mocinhos clichês: o “pai em breve”, o “prestes a casar”, o “novato – prove seu valor”, além do originalíssimo “sargento – estou velho demais para isso”. Isto foi um esforço completamente desnecessário, pois quando algum personagem morre fica difícil de lembrar de quem realmente se trata. Após esta perda de tempo, finalmente insere os ETs em uma história que você já viu e terá de rever.

Quando a enrolação sentimentalista acaba, o roteirista finalmente apresenta os vilões. Bertolini escolheu uma narrativa interessante em que o espectador acompanha os militares em ação sem desfocar deles em nenhum instante. Entretanto, isto prejudicou muito a participação dos alienígenas durante o filme. Ironicamente, aparecem raramente e sempre distantes, ou seja, é praticamente impossível vê-los em detalhes graças a escolha do roteirista. Por causa disto, quase nada é explicado sobre a origem dos seres, apenas que eles vieram detonar o mundo por uns galões d’água, que possuem uma hierarquia social e uma complexa rede de combate. Para os olhos atentos, também é possível perceber que também têm uma linguagem de gestos nas batalhas.

Mas nem tudo é uma desgraça no previsível roteiro de Bertolini. Torna-se bem criativo nas diversas maneiras de matar os invasores e nas proezas de batalha que os protagonistas realizam. Resumindo, a história que escreveu é extremamente patriótica, repleta de diálogos sentimentalistas, adora se autoexplicar e descrever o que acontece na tela. Tem também muitas frases de efeito e, infelizmente, inconclusiva com o resto do Planeta visto que os aliens invadiram vinte países e ele só finaliza a luta em L.A. deixando um grande ponto de interrogação na cabeça do espectador.

Harvey One-Face

O maior destaque do elenco é, sem duvida alguma, Aaron Eckhart, mas isso não significa que sua atuação fora de outro mundo. Eckhart se manteve com somente uma expressão de boca torta o filme inteiro tornando seu personagem apático e desinteressante. Ele não se esforça em nenhum momento para destacar seu personagem dos demais colocando em questão a escolha suspeita do posto de protagonista.

E adivinhem so quem fez o papel de Maria-macho/homem da história novamente? Sim! Michelle Rodriguez reprisando sua especialidade e entregando a mesma porcaria de atuação que todos já cansaram de ver. Até mesmo suas frases já soam familiares. O único que consegue expressar algum drama no fim do mundo é Michael Peña incorporando o civil Joe Rincon, praticamente o único personagem que desperta o interesse do público, além dos aliens. Noel Fisher, Ne-Yo, Cory Hardrict e Ramon Rodriguez completam o elenco divertindo de vez em quando.

Seguindo tendências

A fotografia de Lukas Ettlin é acima da média. Predominantemente bege-amarelada – a iluminação favorita de guerras contemporâneas –, começa muito mal utilizando indevidamente a técnica da “câmera nervosa”. Depois quando o circo começa a pegar fogo, o efeito fica bom e casa com as cenas transmitindo todo o nervosismo e medo dos personagens, além da ação incessante. As câmeras que filmaram o longa também são de um tipo especial. Trata-se de filmadoras 4K, aquelas que têm uma resolução de 4000 pixels. Isto conferiu uma resolução e nitidez monstruosa para o filme deixando as imagens mais belas e polidas.

Ele também trabalha com referências ao mundo dos jogos – alguns de seus movimentos de câmera lembram muito o game “Call of Duty”. Fora isso, consegue entregar planos abertos, auxiliados pelos efeitos visuais eficientes, magníficos mostrando toda a impactante destruição de L.A. Muitas vezes, sua fotografia remete a de “Guerra ao Terror”, principalmente quando joga poeira em suas lentes ou quando captura com belos closes as cápsulas de balas caindo em um inteligente slowmotion.

Os efeitos visuais e a direção de arte também acompanham a qualidade fotográfica do filme. Um realiza com maestria o trabalho de destruir digitalmente L.A. e criar alienígenas bem modelados, enquanto o outro se consagra na reprodução do cenário destruído e sujo do departamento de polícia.

A música que salva Los Angeles

Brian Tyler é um compositor perito em fazer trilhas de ação consagrando-se no gênero. Aqui a história não podia ser diferente, mas suas músicas inspiradas evidenciam seu melhor trabalho até agora. Ao mesmo tempo em que faz músicas para encher os ouvidos e energizar o espectador nos tiroteios, consegue compor outras que soam com um tom épico patriótico desde a primeira nota se assemelhando muito a hinos. Várias vezes essas músicas conseguem elevar o ânimo do espectador conseguindo conferir um entusiasmo bom de sentir – eu sou meio suspeito de escrever esta frase, visto que sempre tenho uma satisfação pessoal e uma euforia exagerada em ver esses malditos ETs voando pelos ares. Tenho que admitir que me contive várias vezes para não sair gritando calamidades no cinema.

Os efeitos sonoros também são surpreendentes. Eles ajudam muito a envolver o espectador na atmosfera do filme e a conferir vários sustos graças à imprevisibilidade dos tiroteios, além de explicitar a importância da audição na sobrevivência dos soldados.

Mudança de hábito

O diretor Jonathan Liebesman é bem conhecido no gênero do terror – dirigiu “O Massacre da Serra Elétrica: O Início”, entre outros. Graças a experiência obtida em seus projetos passados, conseguiu criar um clima interessante cheio de sustos que, embora previsíveis, são, na maioria das vezes, eficientes.

Ele possui uma mania de dirigir muito parecida com a do sempre exagerado Michael Bay. Ou seja, em todas as cenas de ação existe um certo gigantismo e várias explosões atômicas, além da mania patriótica ilustrada pelos feitos macgyverianos de seus soldados. Sua edição é extremamente frenética lotada de cortes rápidos com incontáveis planos em apenas uma cena. Isto de inicio é muito bom deixando a fita bem dinâmica, porém depois de uma hora desse “pisca-pisca” de imagens, o filme começa a apresentar sinais de desgaste e conferir um cansaço visual para o público tornando-se razoavelmente maçante. Seu trabalho com os atores dispensa comentários – pareceu que ele se importou mais com os aliens gosmentos do que com as emoções transmitidas pelo elenco.

Entretanto, há um elemento muito interessante em sua direção que foi pouco explorado. Ele se arriscou a adicionar elementos corriqueiros no meio da ação desenfreada e isso deixou seu trabalho um pouco mais original. Os melhores exemplos que posso dar onde esses elementos aparecem são as cenas da piscina, da lavanderia e do ônibus – estas citações não comprometem de forma alguma a surpresa.

Invadindo o mundo

“Battle: L.A.” é uma tentativa de desafogar o tema decadente de invasão alienígena. Tecnicamente o filme é bem trabalhado acompanhado de uma música ótima, mas sua essência é clichê e previsível. Definitivamente é um filme que vale muito a pena de assistir se você adorar cenas de ação hipertensas lotadas de tiroteios com alienígenas, mas vá convencido que você já sabe a história inteira. Agora só resta esperar “Super 8”, de J.J. Abrams, para ver se, enfim, o gênero decola novamente.

NOTA: 2.5/5.0


Publicado em Críticas por Matheus Fragata. Marque Link Permanente.

Sobre Matheus Fragata

Formado em cinema pela UFSCar. Jornalista especializado em Entretenimento. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas. Tenho sonhos em 4K, coloridos e em preto e branco.

6 respostas em “Crítica: “Invasão do Mundo: A Batalha de Los Angeles”

  1. Amei o Trailer… mas so ficou nisto, onde o trailer é melhor que o filme.
    Quando comecei a ler as criticas ruim ao filme, imaginei…não pode ser. Com um trailer tão legal….
    Depois de assistir se confirmou, o filme é ruim.
    Mal dirigido, cenas de ação com muita fumaça e cameras balançando pra esconder as inperfeiçoes de alguns efeitos….. cena desnecessaria de mutilar um alien pra saber como mata-lo….ridiculo. Depois que abriram o bicho ao avesso, ele tinha que morrer mesmo………..

    A atriz michelle rodriguez, sempre fazendo o mesmo personagem em todos os filmes…..talvez pela cara de poucos amigos que ela tem.

    A imagem que me passa este filme (ao contrario do bom “distrito 9”) é que ele foi feito pra levantar a moral das tropas americanas, que desde a segunda guerra não ganha de mais ninguem, nem do vietnã, iraque, talebã…e afins…. por isto tem que matar alienigenas…. por falar nisto, se neste filme los angeles fosse o iraque, a agua o petroleo e os aliens as tropas americanas..seria mais coerente e realista…..

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    • Carlos, o trailer era fodástico mesmo. Foi por causa dele que eu fui conferir essa bagaça. Hahahaha, não é? Os ets não morriam mesmo – e eles quase não aparecem também. A câmera balança em excesso como você apontou. O maior “atrativo” do filme foi seu maior revés: colocar o espectador na pele de um soldado e sentir suas emoções em batalha.
      Com toda a certeza o filme tem alta carga de patriotismo. Precisamos admitir que o ego dos americanos anda em baixa depois da vergonha da crise econômica que afetou o mundo inteiro…. e todos nós sabemos quem foi o culpado…
      Cara, passei mal em “Distrito 9”, mas ele é ótimo mesmo!
      Abraços!

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