Crítica: “Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2”

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2)

Assim como “Star Wars” e “O Senhor dos Anéis”, a saga “Harry Potter” marcou uma era. Uma década se passou desde “A Pedra Filosofal” e agora tudo acaba depois de oito filmes. É triste ver a cinessérie mais lucrativa da história do cinema chegar ao fim. Foi interessante observar como Rupert, Watson e Radcliffe deixaram de ser crianças e como os filmes foram amadurecendo. A série também acompanhou o fim da minha infância e agora o quase fim da minha adolescência. “A Câmara Secreta” foi o primeiro filme legendado que vi na minha vida então é impossível dizer que “Harry Potter” não foi importante para mim e, por isso, o término da sessão do último filme foi uma experiência triste. Foram 1178 minutos, aproximadamente 20 horas, de Harry Potter ao longo de 10 anos, mas vamos nos concentrar nos últimos 130 minutos desta saga que encantou vários espectadores com sua magia única e especial.

Harry Potter acabou de enterrar Dobby em uma encosta próxima ao Chalé das Conchas, mas não há tempo para lamentar. Potter, Weasley e Granger precisam invadir Gringotes com o auxílio de Grampo para destruir a quarta Horcrux que sela uma parte da alma amaldiçoada do Lorde das Trevas. Porém, o grupo terá muitos problemas para encontrar a quinta Horcrux. Ela se encontra perdida em algum lugar secreto de Hogwarts. Todavia, Harry não sabe que sua invasão desencadeará uma batalha violenta na escola, agora supervisionada por Severo Snape. Será neste evento histórico que o destino de dois mundos será definido no combate mortal entre Harry Potter e Lord Voldemort.

Uma história de gerações

Steve Kloves é um roteirista maleável, imaginativo e ousado, por isso tenho grande afeição por este profissional. A cada diretor que entrava na franquia, Kloves mudava o estilo de sua escrita respeitando as exigências de cada um. Desde o super detalhado roteiro de “A Câmara Secreta” ao resumido de “O Enigma do Príncipe”. Porém seu trabalho em “As Relíquias da Morte: Parte 1” foi exemplar. Com diálogos interessantes e seletas cenas de ação, conseguiu manter a atenção do espectador ao decorrer do filme monótono. Entretanto seu trabalho no último filme da série foi de superar qualquer expectativa. Kloves não perde tempo para situar o espectador que nunca viu algum filme de HP ou àquele que não se lembra de alguns detalhes. Portanto é uma boa dica rever algumas aventuras anteriores antes de conferir a conclusão da saga.

Este é um dos roteiros mais fiéis a história do livro. Depois de assistir ao filme, reli os capítulos correspondentes. Por incrível que pareça, Kloves foi mais atencioso em algumas passagens do livro do que a própria J.K. Rowling. As cenas que se passam na Câmara Secreta não existem na obra original e a batalha de Hogwarts não recebeu o detalhamento épico do filme. Os diálogos ficaram praticamente intocados – 85% deles foram transcritos diretamente do livro. Não há dúvida que as longas conversações e essência narrativa ficaram para o penúltimo filme. Agora o que é a força motriz do roteiro são as várias cenas de ação. Isso é evidenciado pelo resumo de várias conversas importantes como a que ocorre entre Dumbledore/Aberforth e Harry. Entretanto, graças a isso, Kloves deixa toda a história muito bem amarrada, lógica, interessante, rápida e óbvio, divertida. Infelizmente, comete algumas decisões bem duvidosas. Por exemplo, quando remove o diálogo fantástico que ocorre no livro entre Voldemort e Harry.

Surpreendentemente, esses resumos dos capítulos encaixam muito bem para o desenvolvimento do roteiro. O segmento das memórias de Snape ficou mais fluído no filme do que no livro. Existem outras diferenças originais entre as duas obras. Ele deu mais atenção para alguns dos personagens coadjuvantes como Neville e McGonagall, além de inserir reviravoltas imprevisíveis fantásticas.  Kloves também é criativo ao relacionar o inédito efeito gradativo da destruição das Horcruxes entre o protagonista e o antagonista. Ele também não perde muito tempo da narrativa desenvolvendo Rony e Hermione – essa meta já atingiu seu ápice na primeira parte do filme.

As piadinhas deram lugar ao drama. Kloves assemelha a direção de Snape na escola com regime fascista absoluto. É notável perceber os dois arcos narrativos do longa. Um acompanha Harry, Rony e Hermione procurando a Horcrux em Hogwarts. Outro, que mostra o desespero do antagonista, é o brinde mais legal do filme. Com isso, Harry e Voldemort ganham uma profundidade nunca vista antes na série. O vilão passa a ficar mais complexo e amedrontador ao utilizar o eficaz terror psicológico e matar aliados com muita violência evidenciando o nervosismo do personagem. Já Harry sofre e amadurece com a morte de vários amigos. O protagonista também consegue se tornar mais verossímil quando faz uma pergunta infantil, mas extremamente delicada para seus parentes. Fora isso, o roteirista tem a oportunidade de revelar segredos obscuros da vida do garoto.

Porém, o aspecto mais interessante do roteiro são as pausas acentuadas entre as sequências de ação. São nelas que ele encontra oportunidade de responder várias questões deixadas ao longo da série. Uma que deixou muitos fãs do livro revoltados com a “Parte 1” era a ausência da dúvida de Harry a respeito da figura bondosa de Dumbledore – nesta parte, Harry chega até a odiá-lo. Kloves tem o direito a sua réplica neste filme com uma frase arrebatadora. Só existe uma questão que não é bem trabalhada no filme. O alarde sobre o patrono de Snape não é minuciosamente explicado podendo plantar dúvidas na cabeça de alguns. Quando estava relendo o livro encontrei a resposta óbvia.

O que o roteiro tem de melhor acaba sendo seu maior problema. A grande fidelidade com os capítulos escritos por J.K. Rowling não permite que o roteiro encontre outras formas de chegar ao clímax da obra. Por isso, o filme se concentra demais em Harry e Voldemort e não acompanha os outros personagens como Fred, Gina, Luna, Thomas, McGonagall, Filios, Slughorn lutando na batalha de Hogwarts. Isto foi um erro que Fran Walsh não cometeu ao adaptar “O Senhor dos Anéis” para as telonas. Em todos os intermináveis filmes desta série, o espectador não ficava concentrado apenas em Frodo, Sam e Gollum. Diversas vezes acompanhávamos Aragorn, Legolas, Gimli,  Gandalf, etc. explodindo alguns orcs e elefantes no campo de batalha. Mesmo assim, os poucos erros de Kloves não comprometem o desenvolvimento brilhante do filme.

Harry Potter, The boy who lived… Come to die

Assim como em “X-Men: First Class”, o núcleo de alta qualidade nas atuações é concentrado em três atores. Neste caso, o destaque fica por conta de Daniel Radcliffe, Ralph Fiennes e Alan Rickman. Radcliffe cresceu muito artisticamente e teve oportunidade de trabalhar em peças de teatro e ajudando muito a desenvolver sua capacidade dramática. Ele está absolutamente brilhante em sua atuação. Enfim, Radcliffe conseguiu aproximar a figura mítica e distanciada de Harry com a plateia muito bem. Pela primeira vez consegui observar expressões faciais complexas que conseguem transmitir o espectador toda a tensão que o garoto vive – as caras de sofrimento e medo são espetaculares. Por falha do diretor, Radcliffe não trabalha muito bem sua expressão corporal em diversas cenas. Porém, em outras, toda a insegurança do destino trágico do personagem é relevante na expressão nervosa de seu corpo.  Os olhares também são outro ponto alto de sua atuação. Procure reparar no olhar amedrontado que Radcliffe faz em diversas cenas. No clímax acontece o ápice da expressão do garoto e é nessa cena que ele prova sua força artística.

Finalmente, Ralph Fiennes provou ser a escolha certa para interpretar o icônico antagonista. Ele está soberbo encarnando seu personagem. Ao contrário de Radcliffe, Fiennes, com todos seus anos de experiência, dá um exemplo de atuação. Com o destaque proporcionado pelo roteiro, ele teve a oportunidade de construir um psicológico fantástico contando com diversos desdobramentos. Sua dicção rouca, ofídica e sibilante dá efeito a diversas frases que marcaram o filme. A gama de expressões que ator apresenta é incrivelmente vasta. Fiennes deixa bem claro que o antagonista também vive em um momento pavoroso e ameaçador. As expressões são inquietas e desesperadas e seus gestos começam a tornar-se bruscos ao decorrer do filme. Uma coisa fantástica que Fiennes realiza com maestria é a modelagem de seu olhar. No início do longa, Voldemort não tem uma expressão humana, mas a cada Horcrux destruída seu olhar fica mais comum. O ator também evidencia a falta de naturalidade do antagonista. Ele deixa claro que Voldemort só se importa com ele próprio. Isso é muito evidente no estranho abraço do vilão. Assim como Radcliffe, o ápice de sua atuação se encontra no clímax. O único ponto negativo de sua atuação é a ausência da marca registrada do personagem, os famosos gritos “NYYYYYEEEEAAAA”.

Alan Rickman mostrou um lado desconhecido do personagem pela primeira vez em uma atuação dificílima. A cena da penseira tem tanta força por causa da memória que o espectador tem da figura apática de Snape. Rickman desconstrói seu trabalho de dez anos para criar o personagem mais marcante e complexo da saga. Novamente o ar teatral fala mais alto. Nesta cena é visível a fluidez do controle de seu corpo deprimido combinado com o olhar perdido de seu rosto – são várias paixões juntas, é possível sentir o drama, a ira, o amor e a decepção de Rickman. O resultado disso é uma das partes mais emocionantes do filme. Apesar destas novidades fascinantes apresentadas pelo ator, ele ainda trabalha expressões antigas com a mesma naturalidade. O que acho mais legal deste aspecto da atuação dele é a dicção pausada de suas frases. Isso evidencia como o personagem seleciona cuidadosamente suas palavras. O melhor de tudo é que o roteiro explica a origem desta mania de Snape.

Rupert Grint e Emma Watson não apresentam muita coisa nova mantendo o padrão de qualidade dos filmes anteriores. Rupert ainda possui um timing cômico excelente e Watson consegue chorar novamente pela bilésima vez. Parece um mal deste filme, mas o ápice da expressão de praticamente todos atores ocorre no clímax. Rupert e Emma não fogem desta regra. Outra que retorna a boa forma é Maggie Smith. Sua atuação está mais energética e divertida. Finalmente a atriz deixou o pedestal e conseguiu conversar com a platéia. John Hurt é mais um atrativo que o elenco britânico grandioso tem a oferecer. Em apenas uma cena, Hurt conquista o espectador com seus traços misteriosos.

Matthew Lewis também recebe sua chance para brilhar. O garoto surpreende bastante e entrega seu melhor trabalho até agora. Elegante como sempre, Michael Gambon volta a encarnar Dumbledore. O time dos vilões também sabe impressionar. Helena Boham Carter tornou Bellatrix mais suportável graças a pequena participação. Logo no início do filme, Carter amplia sua atuação e prova sua flexibilidade ao adequar-se a diversos personagens. Entretanto, uma expressão me conquistou ao primeiro olhar. É uma pena que o plano dure pouco, mas o sorriso doentio da atriz é certamente cativante. Jason Isaacs continua a evoluir Lúcio Malfoy competentemente. O resultado de seu trabalho destacou o personagem, além de conferir um toque único e original. Tom Felton continua com a boa atuação apresentada em “O Enigma do Príncipe”.

O elenco de apoio também é muito bom. Formado por diversos atores britânicos, os coadjuvantes apresentam atuações variadas. Evanna Lynch, Helen McCrory, Ciáran Hinds, Bonnie Wright, Gary Oldman, Gemma Jones, Emma Thompson, Julie Waters, Mark Williams, Natalia Tena, Geraldine Somerville, Robbie Coltrane, David Thewlis e George Harris completam o grandioso elenco.

Lumos Maxima!

O português Eduardo Serra apresentou ao público a melhor fotografia da cinessérie em “As Relíquias da Morte – Parte1”. Mas o melhor de seu trabalho ficou para o final da saga. O cinegrafista opta por tons mortos, bucólicos, acinzentados, sóbrios e escuros. Ele retrata Hogwarts com cores tristes inferindo que a magia do local foi extinta. Sua fotografia é muito diferente da apresentada por John Seale em “A Pedra Filosofal”. No primeiro filme, Seale apresenta Hogwarts com cores amareladas fortes que transparecem a segurança que a escola oferece a Harry. Agora nenhum lugar é seguro para o protagonista. Serra deixa isso claro inserindo várias sombras nos cenários escuros.

A modelagem das sombras é outro espetáculo que evidencia a complexidade da fotografia. Em inúmeras cenas pude observar que as sombras projetadas pelos personagens eram inexistentes ou muito escondidas. Este efeito é um dos mais difíceis de realizar e Serra o recria com muita facilidade. Sua iluminação é muito delicada e minuciosa. Com o manejo sábio das luzes e das sombras nas faces dos atores, consegue reforçar o poder da atuação de cada um. Outro destaque de sua fotografia é a rapidez assustadora que ele consegue modelar a luz quando ela varia de um tom para outro.

A criatividade do cinegrafista também é posta a prova. Ele inova com diversos efeitos inteligentes de iluminação. Muitas vezes, Serra adiciona flashes de luz nas cenas. Alguns são lentos, suaves e duradouros enquanto outros são rápidos e violentos. Ele também inova com reflexos fantásticos resultando em imagens muito bonitas de se ver. Algumas vezes ele prefere usar distorções complexas e desfoques nos planos com efeitos criados pelas próprias lentes das câmeras.

Apesar do grande predomínio do cinza na fotografia do português, Serra modela outras cores ao longo do filme. O azul e a névoa são presentes em diversas cenas exteriores. Ele é proveniente do truque mais manjado do cinema e que todos cinegrafistas tem a obrigação de recriar. Trata-se da famosa “luz da Lua”. Até mesmo tons esverdeados, cor pouco explorada pelos cinegrafistas modernos, é presente no jogo de iluminação do longa. Já a névoa deixa os demais personagens do plano com uma aparência fantasmagórica. Entretanto, o mais impressionante de sua fotografia acontece quando tem a oportunidade de estourar tons brancos na tela – as sombras dos personagens também desaparecem nesta parte. A maior dificuldade de trabalhar com cores brancas é manter o padrão do tom na mudança de planos. É incrível observar como Serra mantém a mesma tonalidade do branco durante a cena inteira. Também na mesma cena, é possível distinguir leves sombras ao fundo da imagem. Assim ele consegue proporcionar profundidade e noção de perspectiva na cena.

Existem outros dois aspectos da fotografia que são interessantes de comentar. O primeiro é como o cinegrafista consegue oscilar a luz incidente na face dos personagens simulando a iluminação natural das velas ou chamas. O outro é a única cena que Serra satura as cores do filme – novamente o resultado é belo. Entretanto, há um porém em sua fotografia. O cinegrafista, na maioria das vezes, focaliza o primeiro plano deixando o fundo da imagem completamente desfocado. Até então está tudo certo, mas o filme foi convertido para o 3D estereoscópico e por isso o efeito sai pela culatra. Sem o segundo e o terceiro plano focalizado, a sensação de profundidade causada pelo efeito fica comprometida. Se o cinegrafista tivesse usado uma focalização diferente como o deep focus isso não teria acontecido. O primeiro filme da história a explorar devidamente este recurso de algumas lentes e câmeras foi o brilhante “Cidadão Kane”.

Os efeitos visuais também são um espetáculo. Eles conferem ao ambiente mágico e fantasioso do filme uma grande verossimilhança. Existem vários estúdios de animação gráfica na produção do filme e cada um dedica toda a sua atenção para criar um determinado efeito. As melhores CGs do filme são as que compõe o dragão – o melhor já feito até hoje, a estrutura do campo de força e da cobra Nagini – repare como esta reflete as luzes do cenário. Os raios que emanam das varinhas também recebem um detalhamento melhorado neste filme. Já a direção de arte consegue reproduzir fielmente toda a destruição de Hogwarts. O outro ponto alto deste aspecto técnico é a recriação da sala precisa que nunca deixa de me impressionar. Porém a maquiagem erra feio ao envelhecer os personagens que continuam com suas faces joviais – os únicos que convencem são o casal Potter.

Uma série de fatores

As músicas são a alma de toda produção cinematográfica. Quando são feitas com muita competência, conseguem se fixar em sua cabeça. O mestre de conseguir este efeito é John Williams. Suas composições fantásticas conseguem fazer com que o espectador relembre das cenas que acompanhavam as músicas. Com isso, Williams fixou várias músicas-tema na cabeça dos espectadores de inúmeros filmes sendo as mais notáveis de “Indiana Jones”, “Star Wars”, “Tubarão” e “Jurassic Park”. Ele também criou outro tema único em “Harry Potter”.

Por conflitos de agenda, Williams teve que abandonar o posto de compositor da série depois do terceiro filme. Patrick Doyle foi o segundo compositor da franquia e Nicholas Hooper foi o terceiro. Alexandre Desplat assumiu o cargo nas duas partes de “As Relíquias da Morte”e compôs uma trilha memorável e emocionante. Várias de suas composições remetem as músicas dos filmes anteriores da série. Mas isso não quer dizer que Desplat não foi criativo em sua trilha. O compositor foi muito ousado orquestrar músicas tristes e melancólicas em um filme lotado de ação – é muito comum encontrar trilhas energéticas e pulsantes em filmes deste gênero. Entretanto, sua escolha foi sábia, pois o que acontece em Hogwarts é um evento bem depressivo.

Desplat prova seu talento ao ter sucesso em conseguir deixar tambores e violinos em completa harmonia em uma das melhores composições do longa. Algumas músicas que acompanham Voldemort recebem um caimento ameaçador e instável, além de contar com um toque de suspense. E outras, que seguem a batalha de Hogwarts,  soam incrivelmente épicas – é impossível não vibrar ou perder o fôlego na cena clímax do filme. Porém a música mais bela é a que acompanha a cena das memórias de Snape. A brilhante sucessão de instrumentos da orquestra emociona. No início, prevalecem suaves escalas crescentes e decrescentes da flauta que transparecem a passividade da cena, mas conforme a música progride, coros lentos de violinos revelam uma atmosfera triste casando muito bem com a cena.

É muito interessante notar que o compositor utiliza diversos instrumentos incomuns nas trilhas sonoras atuais. Ele esquenta as cordas das harpas, o metal de sininhos, flautas e trompetes, a garganta dos majestosos corais, entre vários outros. Mesmo com uma trilha fantástica, bem orquestrada e emocionante, a música de Desplat não consegue superar a força das lembranças que a música tema da série traz. Nas sessões que fui, pude escutar vários espectadores se lavarem sob suas lágrimas nostálgicas provocadas pela inesquecível trilha de John Williams.

567 minutes of David Yates                         

O aspecto mais original de toda a saga Harry Potter foi a mudança de diretores dos projetos. E todas as escolhas foram certas. Chris Columbus era ideal para iniciar a aventura do bruxo. Seus traços infantilizados e bobos conquistaram os pequenos espectadores. Depois veio o fantástico Alfonso Cuáron, o cara que definiu a forma que a cinessérie iria tomar. Os filmes tornaram-se mais sombrios e maduros após sua direção. Já Mike Newell garantiu um quarto filme explosivo e inquieto. E por fim, David Yates terminou o trabalho de gerações com adaptações resumidas, mas com forte apelo visual. Isso resultou em uma grande variedade nos estilos fotográficos, narrativos e musicais em cada filme.

Yates segurou suas pontas na primeira parte do filme. O diretor preferiu desenvolver lentamente os personagens com pouquíssimas, mas, recompensadoras, cenas de ação. Agora, na segunda parte, arregaça suas mangas e mostra todas as cartas que estava reservando para o aguardado grand finale da saga. O filme possui um ritmo muito bom que não permite que o espectador se distraia. Todas as explosões e pirotecnias ficaram guardadas para o final. A arquitetura das sequências agitadas é fenomenal assumindo descaradamente o posicionamento épico necessário. Além disto, Yates confere um trato dramático único a edição do longa.

Admito que não gostava muito do modo que Yates dirigia seus filmes, mas isto mudou quando eu conferi “As Relíquias da Morte – Parte 1”. E agora, gostei ainda mais do que vi. O cineasta mantém uma atmosfera de intensa tensão durante o filme inteiro. A ambientação perigosa é reforçada pelo silencio perturbador de algumas cenas. Outro ponto alto de sua direção é a maneira que ele consegue contar ótimas histórias a partir dos detalhes – a figura do dragão resume os parágrafos em que Rowling o descreve. Mais um aspecto original do diretor são os contrastes que cria constantemente. Por exemplo, o poder de destruição de feitiços delicados. Ele também é muito criativo na condução das cenas utilizando planos holandeses combinados com movimentos de câmera originalíssimos. Yates acerta ao inserir apenas um slow motion característico no filme inteiro aliada com a bela coreografia – a dimensão que a cena toma é indescritível.

Outro aspecto bem legal de sua direção é as inúmeras referências de filmes anteriores da série que Yates encaixa na composição dos cenários. É preciso estar muito atento, mas é bem gratificante reconhecer esses itens. São estátuas, criaturas mágicas, figurinos, objetos, entre várias outras coisas que o diretor coloca nos cenários. Ele até lembra a mitologia original da bruxaria ao inserir um alarme que lembra gritos de gatos. Ele também merece receber destaque pelo tratamento ideal com os atores.

Mas nem tudo é perfeito no último filme de Harry Potter. O diretor não consegue emocionar o espectador com algumas mortes que eram esperadas sendo que algumas possuem um acabamento artístico muito vagabundo, forçado e inverossímil. O que é difícil de compreender, pois ele consegue deixar as mortes de alguns personagens bem emocionantes e atuadas. Como Yates trabalhava apenas com a linguagem televisiva é comum notar vários enquadramentos em big closes. Alguns são muito bem feitos e originais, mas outros acabam prejudicando a atuação dos atores. O melhor exemplo disto é a cena do entrave final de Harry e Voldemort. Na imagem é possível notar que ambos estão de joelhos dedicando o resto de suas forças para sobreviver. E, assim, Yates perde a melhor oportunidade de transmitir a expressão corporal de Radcliffe. Felizmente, acerta ao enquadrar Fiennes no plano. Apesar de trabalhar muito com closes, o cineasta assume o gigantismo de várias imagens a fim de reforçar a abordagem épica do longa.

IT ALL ENDS…

Tudo que é bom acaba. E depois de dez anos a lendária saga chega ao fim. “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2”é um filme excelente. Ele não chega à perfeição por meros detalhes, entretanto, conclui a história de modo encantador e satisfatório. É difícil sair decepcionado após a sessão. Porém, mesmo que muitos tenham falado que não agüentam mais filmes sobre o bruxo, é impossível não sentir um nó na garganta quando os personagens se despedem pela última vez em um emocionante fade out. A crítica ficou bem longa porque senti a obrigação de me dedicar para entregar um texto minucioso sobre o filme, afinal eles compõem parte significativa da minha própria história. Acredito que meus amigos bruxos que  acompanharam episódios importantes da minha vida mereciam uma despedida a altura das alegrias que me proporcionaram. Pela última vez, o Hogwarts Express abandonou a plataforma 9 ¾. Agora ele não vai para Hogwarts, mas sim para a eternidade.

NOTA: 4.5/5.0

“Come on, Tom. Let’s finish this the way we started it. Together!”

Publicado em Críticas por Matheus Fragata. Marque Link Permanente.

Sobre Matheus Fragata

Formado em cinema pela UFSCar. Jornalista especializado em Entretenimento. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas. Tenho sonhos em 4K, coloridos e em preto e branco.

27 respostas em “Crítica: “Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2”

  1. Já li os livros três vezes cada, revi os primeiros filmes setecentas vezes, e sinto como se parte da minha infância se foi. E, sinceramente, de uma forma genial. Até concordo com a frieza em certas cenas, mas acredito que o melodratismo deveria ser restrito ao passado do Snape e à cena final (o que aconteceu). Senão, a obra ficaria apelativa, e estou feliz por não ter ocorrido isso.

    As mudanças na adaptação foram perfeitas. O passado de Severo foi muito mais fluído (como disse), portanto, muito mais emocionante; a troca da casa dos gritos pelo porto (eu sei que este não é o nome, mas deixa); e os diversos pontos merecidamente postos de lado (e aqui cito a identificação de quem era Rony no banco Gringots e o reconcialiamento de Percy, entre outros).

    Alan Rickman se não for indicado ao Oscar de ator coadjuvante eu mato alguém. Seu personagem é o melhor da série, o mais ambíguo, complexo… Já Ralph Fiennes finalmente desponta e Radcliffe mostra confiança. Porém, destaco ainda John Hurt, Helena Bonham Carter, Maggie Smith e Jim Broadbent (aliás, você nem falou deste aqui).

    Enfim, ótimo post. Adoro ver pessoas falando bem a saga. E apesar de não ser o melhor filme, ele ainda é sensacional. E eu não mudaria nada. Só a briguinha entre Aberforth e Harry, pois aquilo no contexto do longa foi tosco.

    Abrass

    PS: preciso falar da fotografia, direção de arte e efeitos visuais? Eles sempre foram os pontos altos. Apenas atingem o ápice aqui.

    PS 2: ainda prefiro a trilha de Williams, contudo Desplat faz mais um grande trabalho.

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    • Haha, não dava pra eu colocar o elenco inteiro do filme, mas bem que eu gostaria. Que bom que voltou a comentar aqui!
      Também senti um belo vazio após a sessão. O nome do lugar é “A Casa de Barcos” hahaha. Sim, também gostei muito de algumas alterações que Kloves fez.
      Você citou que não gostou da briga entre Aberforth e Harry. Bom, ela era necessária para explicar o porquê que Kloves não inseriu o conflito interno que Harry sofre no período da primeira parte do livro. Com isso, ele responde a pergunta que ficou na cabeça de muitos leitores.
      Por mim, tanto Rickman quanto Fiennes merecem um Oscar de coadjuvante. Eles estão fantásticos.
      Acho que este filme é um dos melhores da série. No início não havia gostado muito, mas depois que eu reli e revi o livro e o filme, minha opinião mudou.
      Fico feliz que tenha gostado. Espero que volte!
      Abraços!

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  2. Nao sei por onde começo, hahahahaha

    Bom, eu acho que no livro essa tensão que vc diz entre Voldemort matando os amigos de Harry pra fazer uma pressão, é melhor exposta.
    Além disso, ainda o personagem não me satisfaz. Não é culpa de Fiennes e nem de Voldemort em si, e sim da forma que resolveram retrarar o bruxo. Apesar dele transmitir o “nada” mto bem feito de certa forma, não vejo ele como um grande vilão.

    A fotografia é sim sensacional. Achei interessante vc comprar com o primeiro e vc tem toda razão quando diz que a sensação de conforto que Hogwarts passa é completamente diferente deste último. A gnt sente essa bad no livro mesmo, e no filme foi mto bem representado tb.,

    Alan Rickman está demais, além de seu próprio personagem forte, eu me surpreendi com sua atuação, a forma como ele consegue ser seco, frio e calculista falando devagar suas palavras, até o momento daquelas lágrimas (chorei rios). Bem verdade que desde sua primeira aparição no filme, mesmo seco eu já senti vontade de chorar por já saber o que estava por vir. Mas imagino quem nao leu os livros. Deve ter sido uma mistura de choque e remorso da mesma forma que Radcliffe demonstra com seu personagem. Lindissimo.

    Vc releu o livro né pilantra? hahahaha Várias citações que vc comentou eu não consigo recordar de jeito nenhum. Vo ter que reler pelo menos as ultimas 200 paginas tb, rs. Mas eu lembro mto bem de algumas frases, principalmente a do Dumbledore falando sobre o que é real. Aquela frase é o resumo da Magia de Harry Potter e toda essa fantasia que vivemos com gosto num Universo paralelo da nossa mente, durante todo esse tempo.

    Acho que meu comentário tá do tamanho proporcional ao seu post, hahahaha Chega…

    Adorei seu texto! Mto bom de ler!

    Bjo

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    • Uau, isso sim que é um comentário gigante – fez jus ao meu post hahahaha (:
      Estou muito feliz que você tenha comentado uma crítica minha. E fiquei ainda mais feliz por vc ter gostado do texto.
      Concordo que Voldemort não seja um grande vilão, mas nem por isso deixa de ser um dos meus favoritos.
      Eu tinha que comparar as duas fotografias senão não iria conseguir dormir em paz hehehe. É difícil não ficar emocionado com a interpretação de Rickman.
      “Bem verdade que desde sua primeira aparição no filme, mesmo seco eu já senti vontade de chorar por já saber o que estava por vir. Mas imagino quem nao leu os livros. Deve ter sido uma mistura de choque e remorso da mesma forma que Radcliffe demonstra com seu personagem. Lindissimo.”. Vc já falou tudo e concordo plenamente com seu argumento.
      Sim, dei uma relida no livro para escrever a crítica hehe.
      Beijos

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  3. Não existem palavras para eu descrever minha paixão por esse filme… E mesmo não sendo um fã de carteirinha confesso que também fiquei com o coração na mão quando os créditos finais começaram a subir. Achei esse o melhor filme de toda a saga; é simplesmente incrível como esse filme beirou a perfeição!
    Sobre as atuações principais do filme, Alan Rickman finalmente mostrou toda a sua capacidade excepcional como ator muito bem definida no filme “Rasputin”, Daniel Radcliffe me surpreendeu mas não passou de “bom” pra mim e, discordando respeitosamente da moça ali de cima, Ralph Fiennes transformou Voldemort em um dos maiores vilões que vi nos últimos anos.
    E o mais interessante é o turbilhão de emoções que os atores despertam no espectador: fazem rir, chorar, se assustar, torcer, tudo isso de forma magistral e sem deslocamentos com a trama.
    Achei a fotografia excelente, já que prefiro mais os tons sombrios, mas não dou o crédito disso a Eduardo Serra, e sim a David Yates, que guia muito bem seus cinematógrafos, como Slawomir Idziak em “A Ordem da Fênix” e Bruno Delbonnel em “O Prínicpe Mestiço”. Também discordo sobre a direção dele, acho que foi ele quem amadureceu a saga definitivamente [Cuarón até tentou, mas Mike Newell preferiu retomar os caminhos de Chris Columbus], e se tornou meu diretor preferido da franquia.
    O único problema gritante do filme pra mim foi o final, passam-se quase 20 anos e eles mantém a mesma aparência, concordo que deviam ter feito mesmo um trabalho melhor na maquiagem, e acho que atores mais velhos não teriam dado certo de jeito nenhum. Sobre a trilha sonora, Alexandre Desplat é um dos grandes compositores modernos [às vezes acho ele melhor até que Hans Zimmer, meu preferido] mas comparar Desplat e John Williams e covardia; melhor, comparar qualquer um e John Williams é covardia, o cara é gênio mesmo.
    De todas as suas críticas está está entre as melhores, Matheus. É uma pena mesmo que tenha acabado uma das maiores franquias da história, ainda mais por ter marcado tanta gente, uma geração inteira.

    Abraços.

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    • Sim, pelo jeito também estou apaixonado por este filme e assim como você, considero o melhor da série.
      Poxa, Yuri, tem que dar um desconto para o Radcliffe hahaha. Mas vi que seu desempenho melhorou bastante e acabou me agradando.
      Eu adorei a atuação de Ralph Fiennes. Ela está absurdamente bom no papel. Concordo plenamente, Voldemort tornou-se um dos vilões de uma geração assim como Darth Vader e o Coringa. Não estou comparando um com o outro, só digo que ele entrou para o clube de melhores antagonistas que tive o prazer de conferir.
      Sim, também senti uma erupção de emoções, mas não consegui chorar – fiquei bem triste depois do término da sessão. Não vejo a hora do filme sair em BD.
      Yates sempre preferiu tons mais sombrios, mas a fotografia de Serra é muito complexa e bela. Para mim, ele tornou os dois últimos filmes uma experiencia fotográfica – gosto muito de observar quando o cinegrafista está sendo muito criativo. Então, Yuri, tive alguns problemas com a direção de David Yates. Não gostei de “A Ordem da Fênix” e tampouco de “O Enigma do Príncipe”. Eles podem divertir e ser um bom entretenimento, mas para mim, não passa disso.
      Só comecei a gostar de Yates a partir da primeira parte de “As Relíquias da Morte”.
      Gosto muito do trabalho de Cuáron – é um dos meus diretores favoritos. Mas se ele não tivesse acendido o pavio do amadurecimento da franquia, onde estaria a base para Yates?
      Haha, não era minha intenção comparar Desplat com Williams. Gosto muito dos dois, mas só quis evidenciar que a força do tema original do filme é muito grande. Enfim, adorei a trilha sonora do filme. Quando tiver tempo, procure as músicas no Youtube – é outra experiência.
      É, a maquiagem falhou feio ao envelhecer os atores.
      Mas de qualquer forma, agradeço muito seu comentário. Esta crítica foi muito especial para mim e dediquei muita atenção a ela. Que bom que gostou – me deixou feliz (:
      Abraços!

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      • Que isso, cara, quando alguém tem talento pra alguma coisa a gente tem é que exaltar mesmo; acho seu blog, de longe, o melhor sobre cinema.
        Eu não cheguei a chorar no filme [apesar de ter enchido o olho de água em algumas partes] mas minha irmã soluçava de tanto chorar, e eu até que gostei de “O Enigma do Príncipe” e acho “A Ordem da Fênix” um dos melhores, mas minha irmã sempre me diz que é porque eu nunca li os livros. Sobre a fotografia, eu escrevi mal, ficou parecendo que eu desmereci o trabalho de Serra; na verdade só dou os créditos da base sombria da fotografia a Yates, Serra se mostrou muito, mas muito melhor que qualquer um de seus predecessores, usando muito bem todas as ferramentas artísticas que você ressaltou. Eu só não gosto muito de comparar o trabalho em HP de Yates com Cuarón, porque um fez 4 filmes da saga e o outro só 1, e mesmo preferindo o Cuarón em um termo geral, achei melhor ele não continuar [se tivesse dirigido o resto da franquia, apesar de talvez ter ficado muito melhor, ele nunca teria feito “Filhos da Esperança”, um dos melhores Sci-Fi que assisti em toda minha vida]. Mas concordo com você que ele ajeitou o solo para Yates trabalhar. E sobre a triha sonora, eu saquei que você não tava fazendo comparação, mais uma vez eu me expressei mal, por isso peço desculpas.
        No mais é só[?] isso, abraços e boa semana.

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        • Já devo ter te dito que seus comentários valem ouro, né? Hahaha Muito Obrigado, mesmo. Mas nem sempre as críticas foram tão boas como hoje. Se tiver tempo, leia “Príncipe da Pérsia” – essa é de longe a minha pior crítica. Se eu tivesse avaliado aquele filme hoje, teria dado no máximo 2.0/5.0. Este review pertence a sessão restrita do blog hehehe.
          Exatamente, sua irmã está absolutamente certa hahaha. “A Ordem da Fênix” é um livro muitooooo grande. Nós dedicamos um tempo enorme para a leitura e a decepção com o filme é indescritível. “O Enigma do Príncipe” é o meu livro favorito da série – possui um desfecho genial muito diferente daquele vagabundo do filme.
          É, você está certo sobre Yates e Cuáron – mas minha curiosidade de como seria se Cuáron tivesse continuado. Pelo menos ganhamos “Filhos da Esperança” como vc citou.
          Que bom! Até reli os parágrafos para ver se eu tinha comparado os dois hahaha. Não precisa pedir desculpas, cara, você é sempre bem-vindo aqui.
          Acho que já discutimos o filme inteiro aqui hahaha, mas percebi que não comentei sobre a abordagem mais violenta de Yates neste filme.
          Abraços!

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  4. Seus textos, sempre tão minuciosos, são excelentes. Ajudam a fazer toda a atmosfera do filme voltar para o leitor em suas frases, e isso acontece bem aqui. Harry Potter marcou os meus últimos 12 anos, acredito. Fui ver o filme três vezes até agora, e chorei como nunca vendo todo aquele mundo idealizado acabar de uma forma tão grande. É uma nostalgia atingida pelo fim, e Yates acertou ao fazer isso. Parece até que foi ontem que fui ver A Pedra Filosofal nos cinemas e isso, junto ao ápice dramático do filme, me comoveu de um jeito que eu não pude conter as lágrimas.
    Aqui tudo se resolveu como num passe de mágica, obviamente seguindo uma deixa do primeiro capítulo de Relíquias da Morte, por mais que esse final siga alguns aspectos tão diferentes da parte 1. A fotografia está mesmo belíssima, assim como a edição, a trilha sonora, – mais uma vez do excelente Desplat – os efeitos e a direção do filme. Como você muito bem ressaltou, os diferentes planos utilizados foram magníficos, conectaram mais a magia com o público. E David Yates era, com toda a certeza, a melhor opção para dar um desfecho digno a essa série de 10 anos no cinema. E o resultado, fico felicíssimo em dizer, foi melhor que o esperado.
    Os atores voltam a fazer um ótimo trabalho. Do trio principal, preferi Rupert e Daniel a Emma pela primeira vez na série. Normalmente o protagonista surgia com a pior atuação em minha humilde opinião, mas aqui ele mostrou um amadurecimento nato. Gostei do fato de que ocorreu uma desconstrução geral dos personagens, como que uma última chance de mostrar os verdadeiros caracteres. Snape, que se tornou a atração principal graças à reviravolta e à grandiosa atuação de Alan Rickman, se transformou de um ditador brutal a um personagem amoroso e cuidadoso. A cena dele abraçado com Lílian não sai da minha memória. Neville passou de o covarde para o herói. Rony, que antes era o “burrinho”, volta e meia recebe um elogio da inteligente Hermione. “Genial”, ela insiste em dizer a cada cena. Os coadjuvantes tiveram seus momentos de glória. Para mim, é uma pena ver a saga terminando pois adorava Ralph Fiennes e Helena Bonham Carter. Os personagens deles, cheios de trejeitos, caíram como luvas nos dois atores excelentes.
    Um fim delicioso para uma franquia tão bem recebida no mundo. Não poderia ter sido de outro modo. Minha decepção com o filme foi o ritmo, mais apressado do que a detalhada primeira parte, e o roteiro que, em minha opinião de fã xiita, acabou com algumas cenas importantes que eu gostaria de ter visto nas telas, como a história de Dumbledore, que teve uma abertura nos últimos filmes mas não se finalizou de um modo tão satisfatório. Porém, o resultado ficou tão bom que eu não consigo sair decepcionado com alguma coisa, no total. Vou sentir muitas saudades desse mundo bruxo.

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    • Meu Deus, os melhores comentários estão no meu post favorito! Antes de tudo quero agradecer os elogios =D.
      Mas agora vamos conversar entre os textos…. Eu não consegui chorar, mas também senti um vazio no peito na hora dos créditos. A saga marcou parte importante da minha e nunca vou me esquecer disto. Haha, também assistir três vezes – primeira vez que faço isso em filme HP.
      Sim, concordo que Yates surpreendeu muito, mas minha curiosidade de ver Cuáron dirigindo este filme é grande. É verdade, Radcliffe era o pior dos três. Deve ter batido uma vontade de entregar algo melhor que o esperado depois de 10 anos encarnando Harry Potter.
      Legal você ter ressaltado as desconstruções dos personagens – todos ficaram mais complexos neste último filme. E claro, também concordo com você.
      Fiquei mais triste em ver Fiennes indo embora do que Boham Carter. Finalmente Fiennes teve a oportunidade de imortalizar o vilão. Todas as cenas com ele não conseguem sair da minha cabeça.
      Então, estou percebendo que muita gente não gostou do ritmo do filme. Eu reli as últimas págs. do livro em duas horas e posso afirmar que o final do livro também é corrido.
      Acredito que Kloves queria ressaltar mais o conflito majoritário da saga a ponto de deixar a história de Dumbledore de lado. Achei a decisão interessante.
      Todos nós vamos sentir saudades deste mundo bruxo hahaha. Triste, mas é verdade. Temos que nos dar conta que a história de HP finalmente acabou.
      Abraços!

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  5. Eu gostei muito do filme, mas discordo sobre ele ser o melhor da série.
    Daniel Radcliffe evoluiu muito mesmo, e a tensão entre Voldemort e Harry foi bem trabalhada. Realmente faltou emoção na morte de alguns dos personagens (o que eu notei claramente na de Fred). Também saí com a sensação de que o filme poderia ter tido ainda mais ação em algumas cenas.
    Mas de qualquer forma eu não pude deixar de sentir aquela emoção especial, só por saber que aquele era o adeus dos pequenos bruxos. Meus olhos se enchiam d’água toda vez que eu pensava nisso durante a sessão, e de novo, ao ler o último parágrafo da sua maravilhosa crítica, isso aconteceu.

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    • Poxa, para mim este está ao lado de “O Prisioneiro de Azkaban” no pódio dos melhores. Essa falta de sentimento em cenas vitais do filme me deixou muito encabulado. Ainda me pergunto como Yates aceitou essas cenas com falta de vínculo emocional. Pois é, Kloves ficou muito fixado ao livro – algo meio duvidoso. Não cheguei a chorar, mas fiquei com uma pseudo depressão uns dois dias depois da sessão. Para me tratar disso, fui assistir mais algumas vezes. A minha intenção com o parágrafo final era justamente essa, emocionar a quem assistiu o filme. Fico feliz por ter conseguido isso, ainda mais por ter sido você! (=
      Muito obrigado por comentar!
      Beijos!

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  6. Obrigado por aparecer e comentar lá no Cinematrilha, meu caro. Assim que melhorar da minha cirurgia de visão, passo no seu blog pra ler a sua crítica e comentar tb.
    E aquela troca de links, pode acontecer?

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  7. Existe um sentimentalismo e um saudosismo que parecem propelir todos a “amarem” incondicionalmente este filme. Acho compreensível, mas depois que a poeira cair e os fãs começarem a rever todos os filmes da série eles vão observar claramente o abismo que existe entre os dois melhores episódios (Enigma do Princípe e Prisioneiro de Azkaban, nessa ordem) e esta duologia no capítulo final.

    Faltou mais magia. A magia que causa fogos de artifício e emoção no espectador. Como eu acabei de ler, Bellatrix Legrange que causou o ódio de muitos fãs da série rapidamente desaparece como se os últimos 4 episódios não serviram para consolidá-la como uma personagem importante e cruel que mereceria um desfecho mais apropriado. Lupin também simplesmente é visto deitado no chão de Hogwarts e sequer temos a chance de nos despedirmos apropriadamente … e não, a visão de Harry Potter não conta para isto! É um triste fato que o diretor David Yates não conseguiu contornar, pois tão ansioso para seu derradeiro confronto final e costurando 10 anos de histórias, ele simplesmente esqueceu que todo filme que vive em um novo patamar tem um coração e não apenas cérebro.

    Eu adorei Harry Potter e as Relíquias da Morte, Parte 2, e mesmo que eu não crie expectativas para nenhum filme, eu tinha uma vontade grande de colocá-lo na lista dos melhores do ano e, mais do que isso, vê-lo ganhando alguns Oscars (nem que sejam técnicos) para coroar 10 anos de saga. Infelizmente, por mais que eu o ache em quase todos os momentos brilhante, sempre vai ter aquele gosto de que faltou algo. Coisa que, como bem frisado não foi o problema de O Retorno do Rei (que, pelo contrário, cometou o pecadilho pelo excesso, mas aí é outra história).

    Abraços!

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    • Acredite, Márcio, comecei a reparar nessas coisas ultimamente e achei muito legal você ter levantando essa questão. Concordo que “O Prisioneiro de Azkaban” é um dos melhores, mas fiquei muito decepcionado com “O Enigma do Príncipe” – se eu não tivesse lido o livro o resultado seria bem diferente. Estou revendo todos os filmes da série, e meu Deus… Existem falhas muito expressivas nos dois primeiros – principalmente por eles serem filmes “quadrados” e por diversas falhas fotográficas (principalmente em “A Câmara Secreta”). Gostei muito dos últimos dois filmes, mas como você apontou, é perceptível que sempre falta algo nos filmes da saga. Neste caso, faltou muito vínculo emocional na despedida dos personagens. Foi ridículo ver Bellatrix bater o cartão de maneira tão tosca e caricata. No livro, Lupin também aparece morto do nada, sem qualquer envolvimento. Talvez Yates queria expressar a frieza da guerra em que não há despedidas melodramáticas. Todavia, Spielberg conseguiu deixar as cenas muito emocionantes em “O Resgate do Soldado Ryan”. Mas Yates não é nenhum Spielberg hehe.
      Vamos esperar para ver se HP leva alguns prêmios para casa no ano que vem… Ao menos um honorário, né?
      Abraços!

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  8. O filme deveria ser mais longo. É evidente que também rola uma jogada de marketing para vender DVDs com extras. Mas na inevitável comparação com o Senhor dos Anéis, a adaptação tomou de 10 a 0. Ficou uma sensação terrível de historias mal-contadas, coisa que simplesmente não aconteceu no Lord of the rings.
    Ah, e aquela maquiagem no final parece coisa de filme de fundo de quintal.

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    • Ele deveria ser um pouco mais longo sim. Muitos diálogos interessantes foram cortados sem motivos aparentes. Acho que os extras virão em carga maior nos discos de BD, mas nada é impossível. A comparação é mesmo inevitável. “O Retorno do Rei” pode até ser cansativo, mas ele é uma obra-prima. Não só a maquiagem é coisa de fundo de quintal. Aquela morte absurdamente mal conduzida de Goyle é igualmente vagabunda.

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  9. cara, só tenho a te elogiar, não sou de fazer crítica, e nem vejo tantos filmes assim, só os filmes ”do momento”, e admito que por não ler nenhum livro da saga, sempre fiquei um pouco perdido nos filmes, mas nunca corria atrás pq pra mim o que importava era estar no cinema.. agora eu me lasquei, eu perdi grande parte do filme tentando entender alguns itens que eram voltados lá dos filmes anteriores, e eu já não lembrava mais nada kkkk
    mas a sua crítica foi extremamente competente e você tá de parabéns pelo trabalho.
    quando eu li a sua crítica sobre transformers comecei a acompanhar o seu site, e não vou parar por aqui, parabéns pelo trabalho.

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    • Obrigado, Raphael. Então, me diga o que achou de “Transformers”. Estou ansioso para ler sua opinião hahaha. Espero que volte sempre para ler e comentar! Ah, é preciso assistir alguns filmes anteriores para não se perder mesmo…
      Abraços!

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  10. Queria ter tido a oportunidade de ler aos livros, mas confesso que só assisti aos filmes.

    Fiquei com algumas dúvidas na cabeça, uma delas, como o duende Grampo morre e do por que de sua morte naquele salão…
    A morte que mais me deixava intrigado era a de Alvo, mas ela me foi explicada ontem em seus detalhes…

    Por que “Ontem’, por que ontem assisti ao filme e vi um Severo Snape (Alan Rickman) que desconhecia em uma atuação brilhante, para resumir Severo Snape, foi emocionante ver a mudança de direção de seu personagem, de vilão à vilão rebelde, com arrependimentos e emoções mais humanas.

    Assisti a um Lord Voldemort (Ralph Fiennes) vulnerável dentro de sua agonia por terminar com algo que lhe metia medo e lhe transpirava uma forte frustração pessoal.

    Sua vontade em matar Harry era tão grande que o deixou sem opções, uma coisa que percebi é que ele ficava mais fraco ao ponto que suas Horcrux eram destruídas, me deu a impressão de que todo o seu poder era a soma de suas almas, mas que ainda assim ele nunca foi páreo para Harry Potter; estou errado?

    Ralph Fiennes como sempre foi brilhante em sua atuação, tendo maior destaque nessa última parte como já era de se esperar. Ele, como Lord Voldemort, concordo que o entra para o Hall de grandes Vilões do cinema.

    O trio também me impressionou muito de um modo geral. Hermione ao que me pareceu teve uma importância menor nesse filme, já que sua inteligência não foi tão requisitada e o Roni aparecendo mais que nos outros, Harry Potter na atuação de Daniel Radcliffe melhorou bastante como ator.

    Algumas das mortes no filme deveriam, sim, ter sido mais trabalhadas, concordo que tudo acabou muito rápido, como num piscar de olhos.

    Acho que vou assistir mais uma vez ao filme, acho que estava muito ansioso por ver ao filme e isso deve ter me atrapalhado em minha percepção, fora que o ritmo estava muito rápido…

    ….
    As criticas que li ao longo das últimas semanas perderam para a sua, que foi muito bem escrita e dirigida, você escreveu para quem gosta da historia de Harry Potter.

    Meus parabéns

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    • Welton, não perca tempo e leia os livros. Os primeiros são bem infantis e legais de ler.
      Os outros só melhoram e ficam cada vez mais sombrios. Grampo morreu porque Voldemort foi conferir se Harry tinha roubado a horcrux do cofre de Bellatrix em Gringotes.
      A cena deu a entender que ele matou todos que estavam no saguão. Então, Grampo estava no lugar errado e na hora errada.
      Concordo com seus comentários sobre as atuações. Foi incrível ver Rickman desconstruir seu personagem de dez anos em apenas uma cena.
      Assista ao filme de novo. Vale a pena. Você vai notar várias coisas que passaram despercebidas.
      Muito obrigado. Fico lisonjeado de receber um comentário tão bonito como o seu.
      Espero que volte novamente, Welton. Abraços!

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  11. Você se aprofundou mesmo na crítica, ela ficou muito boa! Comecei assistindo a série ainda criança e ela acaba junto com a minha adolescência, o que torna muito difícil dizer adeus a Harry, Rony e Hermione. Esse último filme me decepcionou, porém ele não deixa de ser bom porque sabe manter a atenção de qualquer um e duvido que até mesmo o maior “hater” de Harry Potter consiga não gostar do filme. É um bom filme, mas ainda acho que as “Relíquias da Morte, Parte 1” e “O Prisioneiro de Azkaban” são os melhores da série.

    Nota:8,5

    E parabéns pela resenha! Nunca vi algo tão detalhado a respeito de nenhum filme da série.

    Abraços!

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  12. Como um adolescente eu adorava assistir a filmes da saga. Há poucos dias vi novamente Harry Potter en HBO e eu de bom grado recordar algumas das performances de Emma Watson e Daniel Radcliffe, também os cenários são surpreendentes.

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